O SOFRIMENTO HUMANO
- Erasmo Lima
- 17 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de nov.

O sofrimento humano se manifesta desde o surgimento do próprio homem; trata-se, portanto, de uma condição inerente à espécie humana, capaz de ser vivida tanto de forma profunda na singularidade quanto na coletividade. Geralmente, ele revela a fragilidade da vida, mas também pode servir como combustível para a abertura de novos horizontes. Afinal, é diante de momentos de estagnação — de verdadeiro “caos” — que o ser humano, por vezes, encontra motivação para criar.
Na psicanálise, o sofrimento humano é entendido como parte constitutiva da existência, embora possua origens e manifestações específicas. Freud, em O Mal-Estar na Civilização (1930), identificou três grandes fontes inevitáveis de sofrimento.
A primeira fonte é o próprio corpo, marcado por sua vulnerabilidade às doenças, ao envelhecimento e à morte.
A segunda fonte é o mundo externo, isto é, as forças da natureza, as catástrofes e as contingências da realidade.
A terceira fonte — considerada por Freud possivelmente a mais dolorosa — diz respeito aos vínculos humanos. Buscamos nos relacionamentos harmonia, segurança e estabilidade, mas frequentemente nos deparamos com decepções, frustrações, conflitos e perdas. Um dos grandes problemas do ser humano é esperar do outro aquilo que o outro não pode oferecer.
Do ponto de vista filosófico, pensadores como Buda afirmaram que o sofrimento é parte inevitável da existência humana, resultado de nosso apego e de nossos desejos. Já os estóicos entendiam o sofrimento como algo inevitável, mas acreditavam que podemos escolher como responder a ele. Sob a perspectiva existencial, sofremos porque temos consciência da nossa finitude, da passagem do tempo e da instabilidade de todas as coisas. Sofremos, em suma, porque somos humanos. Contudo, ao mesmo tempo, o sofrimento pode ser também motor de crescimento e transformação. Fugir do sofrimento é negar a própria metamorfose da existência.
Para a psicanálise, o sofrimento humano é inevitável, mas pode ser transformado quando se compreendem os desejos, conflitos e mecanismos inconscientes que o sustentam. O objetivo da psicanálise não é eliminar o sofrimento, mas ajudar o sujeito a relacionar-se de outra forma com ele — tornando consciente aquilo que estava recalcado, ressignificando a dor psíquica e abrindo novas possibilidades de desejar e de se vincular. Em outras palavras, o processo analítico busca tornar o sujeito mais maleável diante dos conflitos internos e externos, permitindo-lhe pensar a vida como potência em movimento.
Psicanalista - Erasmo Lima





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