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NEUROSE, PSICOSE E PERVERSÃO Modos de Estruturação do Sujeito


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Na psicanálise, neurose, psicose e perversão não são apenas categorias diagnósticas, mas estruturas clínicas que descrevem modos fundamentais de o sujeito se relacionar com o mundo interno e externo. Cada estrutura se constitui na infância, a partir da maneira como o sujeito responde à falta, ao interdito e às exigências da realidade simbólica entre outros. Freud diferencia neurose e psicose afirmando que “a neurose seria um resultado de um conflito entre o Eu e o Id, enquanto a psicose seria o análogo desfecho de uma perturbação nos laços entre o Eu e o mundo externo” (FREUD, 1924).



A neurose é marcada pela presença de um conflito entre o desejo inconsciente e as exigências da moral, da lei ou da realidade. Incapaz de lidar diretamente com esse conflito, o sujeito recua e recalca seu desejo, que retorna de forma disfarçada por meio de sintomas, sonhos, lapsos, inibições e chistes. Nessa estrutura, o mecanismo central é o recalque do desejo. O sujeito mantém uma relação de reconhecimento e internalização da lei simbólica, aceitando a castração — ainda que isso produza culpa, angústia e sintomas repetitivos. Assim, o neurótico vive constantemente oscilando entre desejo e proibição.



Já a psicose é marcada pela rejeição (foraclusão) da metáfora paterna, resultando em uma fragmentação da realidade e em uma experiência psíquica confusa. Ela não opera pelo recalque, mas pela rejeição da ordem simbólica. Isso leva a fenômenos como alucinações e delírios, que funcionam como tentativas de reconstruir um senso de realidade. Para Lacan, o mecanismo de defesa predominante é justamente a foraclusão do Nome-do-Pai. A relação com a lei não é simbolicamente integrada e, por isso, o sujeito precisa inventá-la por meio de soluções próprias, como delírios, vozes ou sistemas explicativos. Nessa estrutura, a experiência subjetiva pode tornar-se fragmentada e desconectada da realidade.



Por sua vez, a perversão constitui uma estrutura distinta, ligada à recusa da metáfora paterna e à negação da castração. O perverso busca anular o Outro, reduzindo-o a um objeto de satisfação de seu gozo narcísico. Ele sabe e reconhece a existência da lei, mas opta por transgredi-la de modo consciente. Diferentemente do neurótico, que se submete ao Nome-do-Pai, o perverso o desafia, recusando-se a reconhecer a falta no Outro e, consequentemente, a sua própria falta. Seu mecanismo de defesa envolve a desmedida e a negação da castração. Clinicamente, essa estrutura se associa a posições como sadismo, masoquismo, voyeurismo e exibicionismo.



A psicanálise não busca “corrigir” essas estruturas, mas oferecer um espaço em que o sujeito possa elaborar sua experiência singular, produzir sentido e construir novas formas de lidar com seu sofrimento e com seu modo particular de estar no mundo.


Erasmo Lima - Psicanalista




 
 
 

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